A VIDA ACONTECE...
A VIDA ACONTECE...
Quando
se aproxima mais uma data do meu aniversário, dou comigo a pensar que, na
verdade, a vida é uma sucessão de acontecimentos que nos marcam de várias
maneiras, e que o nosso livre arbítrio tem um pequeno papel!
A
vantagem de já ter tantos anos, está no facto de poder reconhecer que a minha
vida sempre foi sucedendo, com os acontecimentos a terem, por vezes, um lugar
inesperado, mas com a sensação da sua importância e inevitabilidade. Penso que
já estava em mim a noção de que o sentir se manifestava no meu corpo, sem que
disso tivesse uma consciência plena, como tenho hoje. Considerando que a vida é
uma paisagem, de que vamos fazendo parte, o nosso papel é ir percebendo, que
passos podemos dar em segurança, a confiar no sentir, e acreditar. Ao rever a
minha vida, percebo agora, que as coisas sempre me vieram parar às mãos, que se
apresentavam como inevitáveis e, por isso, valorosas. Nunca tive grandes
ambições, nem planos de futuro, talvez por não ter nenhuma vocação definida, ou
porque não me dava ao trabalho de pensar nisso... Chego a perceber que a minha
autoestima não seria das melhores, deixando que a vida me fosse levando embora,
com a confiança de quem se sente bem integrada no ambiente familiar,
resguardada e protegida.
Comecei
a trabalhar cedo, por não ter seguido os estudos para além do quinto ano do
liceu, e do ano vivido em Londres para aprender inglês. Creio que esse tempo me
marcou muito, pois descobri lá uma sociedade livre, bem diferente daquela em
que vivíamos em Portugal. Estava acompanhada da minha irmã mais velha, mas
sentia saudades de casa, com quem mantinha ligação com as cartas que escrevia,
e com os poucos telefonemas que conseguíamos fazer. Lá fizemos amigos
portugueses e alguns estrangeiros, que estavam na mesma situação que nós. Os
ingleses não nos passavam grande cartão por o nosso inglês ser ainda muito
primário.
De
regresso a casa, o meu primeiro trabalho foi tomar conta de meninos e meninas,
no Queen Elizabeth School de cuja experiência não gostei muito, tendo passado
para outra escola onde fiz amizades e onde fiquei até me casar. Fui ter com o
meu marido para Goa, que estava lá em comissão durante a guerra, como oficial
da Marinha. Depois de Goa estivemos um tempo em Dili, de onde viemos novamente
para Goa, estando eu grávida do meu primogénito, que veio nascer a Lisboa, por
ser mais seguro e poder ter acompanhamento da família na ocasião do parto.
Todas as
experiências e vivências foram acontecendo pela vida fora, com gostos e
desgostos que nos fazem lembrar a nossa fragilidade e resiliência própria de
quem vive na matéria, servindo-me de cada circunstância para aprender e,
sobretudo, a descobrir o ser que sou. O tempo foi-me mostrando ter instinto
maternal, que me tem permitido partilhar conhecimentos e ajudar os que fazem
parte desta comunidade em que me encontro, a seguirem o seu caminho, com
alegria, determinação e segurança. A auto-suficiência é sempre o objectivo
desejado, e que agradeço aos meus pais me terem formado nesse sentido, que
tomei à letra com os meus filhos e alunos, durante o tempo em que me entreguei
à filosofia do yoga, nas suas vertentes física, mental e espiritual.
A vida
acontece mesmo, se nos deixarmos levar, com atenção, prontos e disponíveis para
cumprir o que nos foi proposto ou por nós escolhido, algures num espaço e num
tempo!
Hoje
aconteceu-me passar este sentir, através das palavras que foram fluindo...
OM SHANTI OM
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