UMA ESTÓRIA BEM ANTIGA

 




UMA ESTÓRIA BEM ANTIGA

Esta estória é bem antiga, pois se reporta ao tempo em que nós fomos à guerra, uma bem diferente daquela que nos contava o saudoso Raúl Solnado, mas que tivemos de vivenciar a contragosto e por dever, visto que o meu marido é, oficial da Marinha de Guerra Portuguesa e era destacado para as comissões de serviço adequadas às circunstâncias. A família via-se, muitas vezes, obrigada a sofrer afastamentos, sempre que ele tinha de cumprir com as suas obrigações e aproveitando para acrescentar alguma coisa aos nossos proventos. Nesse tempo os oficiais ganhavam pouco e estes trabalhos tinham essa vantagem, embora deixando as suas marcas.

Mas, o que hoje me veio à lembrança, foi uma circunstância particular que teve a sua graça, e ser demonstrativa da necessidade que nos levam a fazer coisas impensáveis ou fora da caixa, que merecem ser contadas, por considerar que assentam bem, na menina/senhora que eu era, e a manifestar a determinação necessária para continuar a cumprir a nossa ideia básica, que era a importância de eu poder acompanhar o meu marido e os meus filhos, em todas as circunstâncias ou situações. Por essa razão me fiz doméstica, para poder estar disponível e conseguir acudir aos vários problemas que fazem parte da vida e cuidar da família a tempo inteiro.

O episódio que aqui vos vou relatar, passou-se numa altura em que o meu marido se encontrava embarcado em Moçambique, fiscalizando a costa durante um tempo e a ficar estacionado em Lourenço Marques (Maputo) durante dois meses. Perante esta situação pensámos ser boa ideia eu ir passar com ele esse tempo, e para o qual teria de ir e vir de barco, o que conseguiria facilmente porque os meus pais eram amigos dum senhor que era director da empresa Nacional de Navegação e me facilitava a viagem. O problema foi ter de pedir autorização ao Ministério da Marinha e, para o efeito, para lá me dirigi, acompanhada do meu filho João, de 3 anos de idade. Lá me disseram que tal não era possível, pois não aconselhavam/permitiam que as famílias se juntassem aos militares em serviço, apesar de, na altura, ainda não constava que houvesse guerra em Moçambique! Perante esta resposta, fiquei a matutar sobre o assunto momentaneamente, e logo disse: “Então, sendo assim, vou falar com o senhor ministro!!!” Dei a volta para me dirigir ao Terreiro do Paço e cheguei à porta do Ministério da Marinha, onde o guarda me perguntou ao que ia e lhe disse querer falar com o ministro… Ele apenas me avisou que o senhor não se encontrava, mas que podia falar com o ajudante de campo, e eu lá comecei a subir a escada com o meu filho pela mão, cruzando-me a meio com uns oficiais importantes, que logo me interpelaram sobre o meu assunto, e eu disse ao que ia. Apesar de me repetirem a dita ordem, agradeci, mas segui em frente para ir falar com o tal ajudante de campo, que, também, me repetiu a cena, mas acrescentando que a decisão final seria a minha, uma vez que tinha a facilidade da viagem! Entretanto, ainda levei a criança à casa de banho, como era previsto e, por fim, regressámos a casa, com a vontade de avançar com o projecto, o que me deixou bastante feliz! O que se seguiu será para vos contar noutra ocasião, como foi essa aventura, que acabou por se vir a desencadear na nossa permanência em Moçambique!

A vontade é sempre determinante, quando sentimos ser esse o nosso sentir, e termos as condições adequadas para a concretização dos objectivos propostos ou desejados.

                 

                 OM SHANTI OM

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