UMA NOVA ESTÓRIA
UMA NOVA ESTÓRIA
Será esta uma estória nova, em seguimento da bem antiga, que vos
contei aqui e que venho, uma vez mais, provar como a vontade é dona e senhora
da nossa vida, regulando a nossa existência a partir dum sentir inequívoco.
A partir do momento em que ficou definida a ideia de ir a
Moçambique, para passar um tempo com o meu marido que se encontrava em
comissão, comecei a preparar as coisas, arranjando solução para os problemas em
questão. Nessa altura já éramos pais de 4 filhos, sendo a mais nova ainda bebé
e que, por sinal, o pai não tinha tido o gosto de conhecer a Teresinha, visto
já ter partido para a sua viagem, pouco tempo antes dela nascer.
Sempre contei com a ajuda dos meus pais para resolver problemas
pendentes, e nessa ocasião também não me falharam! Para poder ir-me embora,
tinha de levar 2 dos filhos e a primeira escolha foi, naturalmente, a mais
pequenina que acabou por ir acompanhada do irmão João, por ser o que se
adaptaria à circunstância e os outros ficavam bem entregues. Tendo ficado em
Lisboa, o que não nos preocupou muito por pensarmos ser de pouca duração a
separação, mesmo sendo para mim difícil essa decisão e a saudade a ir comigo!
Embarcamos então no dia aprazado, esclarecendo eu que a nossa
passagem, facultada pelo nosso amigo, estava sujeita a não ter um lugar na 1ª
classe, pois era uma época em que já havia guerra em Angola e muitos movimentos
de deslocação de tropas. Por isso fui instalada num camarote de 3a classe, com
a particularidade de ir tomar as refeições à 1ª! No dito camarote íamos três
mulheres e eu dormia com o meu filho aos pés da cama e a bebé num cobertor no
chão e, quando ia à 1ª classe para tomar as minhas refeições, levava-os comigo
ou deixava-os ficar com as minhas companheiras, que, amavelmente, se ofereciam
para me facilitar a vida, uma vez por outra. Felizmente, eram crianças fáceis e
sorridentes e sempre atraindo a atenção de todos. Como curiosidade, as minhas
companheiras tinham casado por procuração e iam ter com os maridos a Luanda. A
solidariedade a funcionar em pleno!
Conforme estava previsto, a partir de Luanda, já pudemos passar
para a 1a classe, onde seguimos até ao destino, depois de passarmos o Cabo das
Tormentas, com a maioria a faltar às refeições devido à turbulência e muito
enjoo. Felizmente não sou dada a esse
problema, e as crianças lá seguiram alegres e tranquilas, a brincar ou a dormir
onde calhava durante o dia, porque não tinha carrinho para transportar a pequenina
e o irmão bem entregue, e a socializar com os da sua idade. Ao fim de 19 dias
chegámos, recebidos com a triste notícia de que ali, também, já havia guerra!
A estadia, que era para ser
de dois meses, acabou por se prolongar, por umas circunstâncias que nos levaram
a ficar por ali uns anos, mas isso é uma estória, que talvez venha a contar
mais tarde, ressaltando uma vez mais o factor das separações, apanágio destes
tempos tão controversos, difíceis, algo
aventurosos e que nos fizeram crescer como família.
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